quarta-feira, 23 de junho de 2010

I always loved the soul



cantava todas as manhãs

pra dispensar o mal humor

na aula das sete, seu divã

colecionava calcinhas e sutiãs


no corcel velho só se ouvia

“get up get on up”

que swingueira, ele dizia:

i always loved the soul


cinco para tal, hora de te ver dançar

fã do loco James Brown

a saudade era seu lar

e seus cinco amigos

só o metiam em confusão

na estrada encruzilhada

só quem o salvava era som


como um mais um são dois

boca suja de batom

fumando um cigarro vermelho

soltou em alto e bom som:

i always loved the soul


não queria ser jurista

não sabia escolher

qualquer um o convencia

se o assunto era beber

ora tenha paciência

seu pai foi quem gritou

vê se toma juízo e traje logo

um figurino de doutor


contrariou seu pai querido

o direito abandonou

e gritava aos quatro cantos

i always loved the soul


hoje em dia é bicheiro

anda cheio de colar

quando fuma um do bom

não se agüenta e vai dançar

fica louco de saudade

de um tempo que passou

i always loved the soul

veím



pobre de barba grisalha

que desistiu da batalha

mora na rua e atende por veím

e contou isso pra mim


saiu da feira da afonso pena no fim

com terno cinza e cuecas de cetim

e no maleta dispensou o elevador

até a rosa que trazia no bolso murchou


tinha uma pressa danada

ele então foi de escada

chegou na porta deu de cara com zelador

o quê que pega doutor?


não deu idéia e terminou de emburacar

foi pra janela do nono andar

olhou pro alto e foi então que ele descobriu

que o seu teto sumiu!!


ficou sem chão com o destino infeliz

e hoje em dia dorme sob a marquiz

e olha que o danado tinha traje de doutor

e agora ele só tem a atenção

de um cara que trampa atrás do balcão, da drogaria guajajaras

e usa trajes de doutor.


pobre de barba grisalha

que desistiu da batalha

mora na rua e atende por veím

e contou isso pra mim

terça-feira, 22 de junho de 2010

Cometa



O meu lado carinhoso viajou.
Outra cidade, tempo espera calma minha.
E minha cama tão fria, tão grande e vazia,
espera o carnaval

Tamanho esmero em tua fala tão genial.
Um lado limpo uma ternura no seu olhar.
Uma verdade assumida.
Um ser humano tão lindo sorri pra mim.

Tamanho esmero em teu gesto.
Aconchegante, fiz meu ninho em teu coração.

Não tenha pressa na volta,
o teu travesseiro estará sempre aqui,
adormecendo entre minhas pernas.
Tua foto refletida no espelho sorri pra mim.

Não tenha pressa na volta,
O teu travesseiro estará sempre aqui.

O meu lado carinhoso viajou.
Outra cidade, tempo espera calma minha.
E minha cama tão fria, tão grande e vazia,
espera o carnaval.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

a escultura




A escultora

Sempre sentada em um tamborete almofadado
na varanda de sua casa às tardes de dias pares,
modelava na argila rostos de pessoas com expressões apressadas.
Também tecia gigantescos cachecóis.
Gostava de chá as quatro e vinte da tarde, também era o horário de usar essências aromáticas para defumar o ambiente.
Lia livros de autores exagerados.
Recitava poemas para sua platéia de samambaias.
Usava pantufas.
Cozinhava com azeite.
Tinha o estranho hábito de contar o número de passos que dava durante o dia e
não podia ultrapassar a marca de 2560 dentro de vinte e quatro horas.
Filmes de faroeste a excitavam e radio só AM.
Passeava pelo parque municipal pelas manhãs colhendo expressões de pessoas apressadas, que mais tarde virariam esculturas de barro queimado.
Frequentava os trabalhos xamânicos em cetés e adorava fogueira de são João.
Algo diferente aconteceu no natal:
Ela fechou os olhos e logo estava em uma espécie de confinamento, encontrava-se em uma tenda armada perto da cachoeira serra morena onde lá ficou meditando em transe sem comer sem beber e sem falar com ninguém até que por fim ouviu o uivar do lobo guará anunciando a chegada do novo ano. Daí ela se libertou do transe ligeiramente abatida e como num passe de mágica se teletransportou até sua varanda, onde acordara sentada em seu tamborete almofadado. Foi quando viu que tudo não passara de um sonho e que a partir disso começou a modelar com o olhar mais sereno a expressão de pressa no rosto de suas esculturas.


colibri



acendeu mais uma luz na cabeça
do sujeito que dormia antes de acordar.
possuía varias teorias novas,
idéias a serem colocadas em pratica
logo depois de se levantar

conhecer o mundo novo
o novo instante de viver
o mesmo, não tão mesmo
um outro jeito de se ver

bem mais que livros na estante
noites sem dormir,
pesquisas por conceitos,
enciclopédias e artigos,
versos, trovas, acalantos
contos, conselhos de gurus,
esotéricos e afins,
o conhecimento chegou de forma sutil.
um colibri que trazia consigo a revelação

mais tarde já refeito de tanta informação
aceitou sua nova busca
sua sina, evoluir
alcançar novos ares , em fim,
espalhar o amor, beijar flores.

ele voou pro sul o com seu terninho azul
ele chegou de mansinho
olhou-te de pertinho
viu teu olhar tristonho
e deu um beijo com carinho
ele voou pro sul com seu terninho azul